Tudo que escrevemos

Isto sinto e isto escrevo Perfeitamente sabedor e sem que não veja Que são cinco horas do amanhecer e que o sol , que ainda não mostrou a cabeça Por cima do muro do horizonte, Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos Agarrando o cimo do muro Do horizonte cheio de montes baixos. Fernando Pessoa

sexta-feira, abril 28, 2006

¨NÃO SOU NADA.NUNCA SEREI NADA.NÃO POSSO QUERER SER NADA.À PARTE ISSO, TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DO MUNDO¨.
Fernando Pessoa




AUSÊNCIA...Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são docesPorque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidaE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.Quero só que surjas em mimcomo a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoadaQue ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.Vinícius de Moraes

domingo, abril 16, 2006

Unidade

Unidade
A vida é um espetáculo
de luz e sombra
Onde não há ganhadores,nem perdedores

Só sincronicidade dos elementos
suavidade na composição
chance de renovação

Decifra-me ou o devorarei:
Expressão definitiva .
Define a necessidade de atenção ao outro e a tudo que nos rodeia
Luz e escuridão

Mas, somos únicos.

sábado, abril 15, 2006

Amor



Amor
Cedo ou tarde a vida traz novas formas, outros coloridos.
Tempo de viver a plenitude do viver, do encontrar.
Criar fontes de vida, encharcando de amor a escuridão do outro.
Viajando integrado ao cosmos e estrelas
te encontro, te revejo, te admiro.
Percebes, eu te amo.
Silvia

Multidão




Multidão
Você não me conhece
Só reconhece
Seu rosto no meu
Você não acredita
Só duvida
Do meu rosto perto do seu
Você não verifica
Só retifica
Os rostos na multidão
Silvia 99

Eu te amo

Eu te amo
O que me causa perplexidade não são os amantes semi desnudos na noite
Nem os corpos estendidos no chão após o massacre da escuridão
Nem mesmo a felicidade de um rosto vaidoso de seu último ato de criação
O que me causa perplexidade é o ser que por um instante parece eu
É a luz do seu sorriso
Serpenteando a minha imaginação
Fazendo que eu me cerque dos melhores conteúdos do meu entorno
Agradeço a sua presença
Silvia

O vegetar da consciência

O vegetar da consciência
Badaladas no meu coração
Em ritmos estridentes
Deixando–me em órbita
Desejos reprimidos, noites mal dormidas
Ânsias, anseios
Tudo em sobressaltos
Subtraindo emoções
Retiro-me dos assédios
Presenteio-me com a solidão dos dias passados a limpo
Remeto-me ao esconderijo secreto
Que já me salvou de tantos desatinos
Onde reino absoluta, ou vegeto
nas entressafras dos meus compromissos.
Silvia Barboza

Sabedoria

Sabedoria
Novo amanhecer
As pontes do equilíbrio se restauram
A vida acontece
Os desafios adormecidos, ressurgem
Como ondas
Até você, levemente
Banhando seus pés
Vá aos poucos sem medo
mergulhe fundo e forte
quando a coragem chegar
só assim, a pérola
esquecida no fundo azul
poderá até se libertar
das pedras que a aprisionavam
e a guardavam
chegando a sua presença
linda, eterna
Silvia Barboza



Fantasias

Fantasias
Fantasiei o meu mundo só para encontra-lo
Vesti uma roupa de seda para seduzi-lo, enquanto por dentro era puro algodão- cru
Tão simples que você nem poderia imaginar
Vesti todos os cortes, todas as modas
Cerquei-me dos melhores olhares, de todos os que eram influentes para os outros e
não para mim
E você não veio
Tirei todas aquelas roupas, fiquei desnuda
Entreguei-me à alguns, à nenhum, à não sei bem quem
E você não veio
Desisti dos encontros e dos desencontros
Desisti de tudo e nada
Fui procurar segredos ocultos na Atlântida, percorri o universo
Encontrei as estrelas, os mil sóis
A esperança e a desesperança
Nada
Seduzi leões e depois sereias
Entreguei-me de corpo e alma a arte dos fuzis, das espingardas
Do tédio e do desespero
E você não veio
Então, deitei-me na areia e comecei a contar quantas conchas havia no universo,
percorri o sem fim e no meio do infinito
No local que eu já nem sabia que havia seres humanos, no local dos sonhos
Dos meus e dos seus
Encontrei-o , olhei para os seus olhos
Estava tão cansado
Eu perguntei:
Mas, aonde você estava?
Ele respondeu:
O tempo inteiro eu a seguia
Silvia

sexta-feira, abril 14, 2006

Silêncio

Silêncio
De que é feito o seu silêncio?
O meu é de mar calmo com brisa suave.
E o seu?
Talvez de musas caminhando pela madrugada.
O meu e o seu do encontro dos mares já não tão mansos rodeado de olhares
Mas tudo isto não importa, pois se ao silenciar o outro,
silêncio os meus passos, a minha incoerência
e desperto o que há de melhor .
Silvia 99

Eu



Eu
Disseram que você vivia em um castelo de muitas vozes, de muitos amores, de tantos desejos.
Fui procurá-la e não a encontrei , esta não era a sua morada.
Voei por outros lares e só vi escravidão: escravos dos seus humores, dos seus orgulhos, das suas vaidades .
Voltei com um desejo iluminado de revê-la, de abraça-la, de vivenciar a sua alegria
Onde moras ? Moras por acaso nas ruas desertas, nos parques pouco iluminados, nas águas calmas e reflexas do lago.
Sinto-a tão próxima que por um instante chego a pensar que você se instalou dentro de mim.
Silvia 99

Carta de despedida


Carta de despedida


Ciúmes da outra cidade.
Que o consome e o afasta tão terminantemente de mim
Ciúmes daquela que com seus prédios esquecidos o faz distante e reprimido,
Respiro fundo no ritmo das ondas que só levam e nunca trazem a sua presença.
Só restam conchas, caramujos, castelos de areia , mas as ondas fazem questão de desfazer minhas construções tão findas.
Agora é essa cidade vizinha e amiga que tem braços de sereia e o faz tão esquecido.
Resigno-me.
Não posso esquecê-lo.
Meus sonhos o aquecem.,os seus acabam por me despertar como a fúria dos pesadelos.
Retiro-me para um espaço secreto onde você não terá mais a senha

Você agora será um a mais no rio do esquecimento.
Das memórias,
Daquilo que todos nós seremos...pó.
Poeira que sopro ao vento...
Esqueço de ti,
Volto a mim.
Recomponho a minha imagem, que parecia distorcida
Necessito de paz .
Nem sei se para ti algo mudará
Ficarei onde sempre estive , na poeira do chão que você pisa
Mas, cuidado tenho as marcas dos seus dias, acompanhei seus anseios e sonhos.
Mapeei sua alma.
Saboreei seus sonhos e humores,
Convivi com os seus devaneios,
Reparti angústias,
Criei mistérios,
Vivi muito para ti ,
Nada obtive desta empreitada .
Só ventania.
Não importa, saiba que onde estiver agora : um dia eu o amei e se da sua parte não considerou. Só partiu.
Perdeu.
Perdeu muito.
Todos esse sonhos que guardei para ti. Mas, agora chega.
E o bom é que nem ao menos preciso pedir permissão para partir.
Deus o acompanhe.
Silvia Barboza

Amor baldio

Amor baldio
A escolha foi nossa
Mas,seria escolha este encontro tardio e oportuno
Que faz badaladas
As crianças acordam na noite
Elas têm sede e frio
O homem da rua olha furtivo a bola de gude rolar nas calçadas
Nascem flores nos terrenos baldios
Locais sedentos de encontro
Vamos escolher a vida e dizer não ao vazio
Tirar a dor do sem terra
Não seria escolha
Mas, amor que chega,
Acorda e nutre .
Silvia Barboza
Maio 2003

Hoje

Hoje
Cansei deste mundo certeiro
D´um destino que se compraz com migalhas liquefeitas
Vivencio pouco
Amo depressa
Silencio a noite
Antes dos gemidos
Quero dar voz ao escuro
Gemer ao som das galáxias
Remexer baús e doar o passado aos rios do esquecimento
Banhar-me nas águas vivificantes e cristalinas do presente.
Silvia Barboza
31.07.2005

O Esvaziar D´Alma

O Esvaziar D´Alma

Términos são plurais
Para o nosso amor singular
Singelo, feito de esquinas, de povo

De aperto de mãos
Sincero, mas reticente
Movido a anseios
Nossos corpos suados
Hoje são levados pelas correntezas do mundo
Sinto sua falta eternamente.
Amanhã, nem sei .
Talvez agora.
Novamente estranhos
Até quando será necessário
Esse ir e vir ao caos
Para que possamos ser um
Viver sem te tocar
É o mesmo que
Remar rumo à imensidão, ao vazio
Ao desejo insaciável
Que só sua mão repousaria e
só seus olhos fariam crescer minha alma
no espanto do encantamento.

Silvia Barboza
2004

Furacões e ventanias

Furacões e ventanias
Para onde nos leva o vento?
Nos arrasta para onde nem sempre queremos estar
Pouco se importa se ainda somos crianças,
Se edificamos as nossas casas em terrenos que nos pareciam tão sólidos.
Levam nossos sonhos e tiram os nossos pés, antes quase soterrados com suas raízes profundas
Destrói mitos, certezas, cria o repensar de todas as estruturas.
Os pobres e ricos são iguais perante as ventanias e furacões
Mas, todos continuam a construir suas cidades sem se importar com a natureza.
Por que então ela teria que se preocupar com eles?
Ventanias, furacões..
Chove muito no espaço da minha memória
São dias nublados.
Sujeitos a chuvas e trovoadas.
E o menino esquecido que estava na rua daquela cidade, só pedia o pão nosso de cada dia.
Nem se importava se o recheio era de vento.
Viva o pão nosso de cada dia.
Silvia Barboza
10.10.05

Ausências




Ausências
Hoje ao acordar senti falta da minha pátria
Não a verde-amarela
Mas, a dos meus sonhos e devaneios
Cansei do cheiro tupiniquim
das cores verdejantes
dos acarajés e da pimenta
que ainda arde
Quero meus rios onde rio
minhas paragens
onde possa pousar ao som dos forasteiros
Saudades do estrangeiro
Tristeza no nacional
Não apenas por glorificarem o mal
Nem pelo povo que ainda soletra
Só por solidão
Esta terra não cabe o silêncio
Os murmúrios
a tarde sonolenta
o dia que nasce noite
nem as noites dos meus dias
Nesta terra,
eu sou gente,
na outra não.
Silvia Barboza/2000

Um continuum de movimento



Um continuum de movimento
Momentos de passagem
Momentos da paisagem
Tudo em movimento de paz
Qual pássaros que vão e vem
Em viagens
Coletivas ou solitárias
Em paragens

O que buscam?
Que importa se continuam cantando e voando
A humanidade não tem tanta importância
Quando se dança a canção dos ventos
Sábios, livres , belos e móveis
Pousando em árvores de raízes profundas
No encontro permanente com a natureza
Pássaros da liberdade
Aconchegando-se nos milênios das árvores
Viajantes sem rumo ou território
Para que a tradição
Se são da natureza
Se sabem onde pousar, repousar
Nascer e suceder
São a um só tempo
Silêncio e música
Terra e mar
Fogo e ar
Silvia Barboza